Reflexões sobre o primeiro setênio da criança

Há algum tempo, tive a incrível oportunidade de estar presente num curso que Pilar Tetilla Manzano Borba ministrou em Garopaba (SC), com enfoque no primeiro setênio da criança, baseado na pedagogia Waldorf. Foi uma das experiências mais profundas e verdadeiras que tive, pois naqueles dias do curso pude ampliar minha compreensão sobre o que é Ser Humano, e como, fisiologicamente, devemos conduzir nossos pequenos, para que eles floresçam em todas suas potencialidades. Foi também uma cura. Uma cura da minha criança interior, que agora compreende onde esteve, e hoje quem é. Quando comecei a estudar os rituais, aos meus 20 anos, senti enorme falta de ritos de passagem em nossa sociedade contemporânea. Ritos que nos direcionassem nas etapas da vida. Hoje, compreendo que, quando o tempo de maturação fisiológica do nosso desenvolvimento físico-emocional-espiritual é respeitado, essa compreensão então, naturalmente chega. Reflexões sobre o primeiro setênio da criança, vamos conversar sobre?

Nossa sociedade é, em geral, uma sociedade doente. As pessoas estão cada vez mais distantes da sua real natureza. Da própria mãe natureza. Faz parte da rotina da maioria das pessoas, hoje em dia, especialmente nos centros urbanos ingerir alimentos (se é que podemos chamar de alimentos) industrializados e sem vida, assistir demasiadamente a televisão e ficar muito tempo na frente de celulares e outros objetos eletrônicos. Não sou contra o uso equilibrado de tais aparelhos, mas quando cito o uso exagerado deles, podemos entrar em dois questionamentos: 1-Vida virtual x vida real: muitas vezes, num grupo de amigos, ou até mesmo numa reunião familiar, em vez de as pessoas partilharem a vida, olhares e afeto, estão de olho grudado em seus aparelhos. O sentido do tato, o contato, está sendo esquecido, ou colocado em segundo plano. 2-Ao usarmos intensivamente tais aparelhos, estamos utilizando excessivamente nosso cérebro racional, nosso neo córtex, esquecendo, muitas vezes, que também precisamos trabalhar nosso campo físico, por intermédio de exercícios, e o emocional, pela realização de alguma atividade artística, desencadeando assim, um maior desequilíbrio interno. O grande problema é que cada vez esses objetos são utilizados por crianças mais novas, crianças que deveriam estar brincando para desenvolverem integralmente sua motricidade, sua socialização, e depois então seu pensar lógico.

Eu compreendi porque, fisiologicamente, querer alfabetizar uma criança aos cinco, seis anos é um erro. Um erro que afeta a saúde e a integridade daquele ser, em detrimento, muitas vezes, da satisfação dos pais, e da política governamental. Isso é desumano. Quando não temos informação de que tal atitude muito mais prejudica do que auxilia nossas crianças, seguimos o fluxo e compramos a ideia que a massa da sociedade nos disponibiliza. Por isso, é importante espalhar conhecimento. A criança, até os sete anos, tem de brincar, brincar e brincar. É o que tem de fazer. Seu corpo físico está em plena formação. E precisa, para se tornar saudável, focalizar a energia interna gerada para tal função: formar órgãos, tecidos, etc. Nenhuma atividade que exija o uso do intelecto deve ser dada a essa criança, pois suas forças vitais estão focalizadas para sua estruturação física na Terra.

Muitos pais pensam, transferindo suas próprias ansiedades às crianças: meu filho precisa se alfabetizar o quanto antes, pois o quanto antes ele souber ler e escrever vai entrar numa boa faculdade e arranjar um bom emprego. Mas não sabem, muitas vezes que quanto mais a criança brincar nesse primeiro setênio, melhor formação seu cérebro terá. Não adianta pular fases. Mais para frente esse ser sentirá falta do que não vivenciou quando era o momento fisiologicamente apropriado. Em 2013, tive a oportunidade de ministrar aulas de musicalização infantil em 14 escolas de Garopaba. Pude perceber em 90% das escolas situações de maus tratos e falta de vinculo e amorosidade dos professores em relação aos alunos. Foi preocupante. Uma experiência linda, pelo contato e troca afetivo-artística que tive com as crianças e ao mesmo tempo triste, ao vivenciar a violência, pois gritos de opressão são formas de violência, que as crianças passam no dia a dia. Será que os pais estão cientes disso? “Para se tornar um humano, precisa-se de outro humano: quando se toca alguém, é que se sente” (Pilar). De 0 a 8 meses, é o período aonde se da à formação de vinculo afetivo, o qual se leva para a vida toda. Quem não faz vinculo, não forma respeito, pois não foi respeitado. Menos estímulos, mais simplicidade. As crianças, especialmente nos sete primeiros anos recebem e percebem o mundo através dos seus órgãos dos sentidos. Menos barulho eletrônico e mais música suave, cantos de passarinhos. Alimentos mais naturais, menos processados. Toques afetuosos. Aromas suaves. Respeito ao ritmo da criança. Cada ser é único. Isso é pura Ayurveda também. Menos atividades extracurriculares, e mais tempo em casa brincando livre. Mais vitalidade. Professor é curador. É ele que passa metade do dia, ou muitas vezes, tempo integral do dia com nossas crianças. Para ser um professor é preciso praticar antes a autoeducação, o autoconhecimento, pois nos cuidando podemos cuidar e contribuir para  que esses anjos floresçam na Terra com suas potencialidades, na hora certa. Om”

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Joana Netz