Você já parou para pensar qual foi a última vez em que pisou no chão descalço, que sentiu o vento soprar no seu rosto, que parou para cumprimentar as pessoas que cruzou na rua? O ritmo de vida atualmente é demasiadamente acelerado. Estamos sempre correndo para chegar no futuro, que, na realidade, ainda não existe.
É certo que a grande maioria da população mundial não possui muito tempo livre por ter jornadas longas, duplas e exaustivas de trabalho. Isso tudo para sobreviverem com um mínimo de dinheiro que banca o básico de alimentação e moradia. Contudo, todos já ouvimos falar da alegria existente em celebrações de comunidades tradicionais, as quais em sua grande maioria, não possuem poder aquisitivo alto. E muitos já se perguntaram, como pode quem não tem nem muito o que comer exalar uma felicidade tão imensa e contagiante? Enquanto, ao mesmo tempo, muitas das pessoas mais ricas do mundo vivem mergulhadas num vazio existencial enorme? Como isso é possível?
Sabe-se que tudo o que é feito de matéria tem um fim na forma que vemos hoje. Tudo se transforma, a natureza da matéria é a impermanência. Tudo é feito da combinação dos elementos éter, ar, fogo, água e terra. Dependendo do quanto de cada elemento se faz presente em determinado objeto, ele toma uma forma específica. Para depois se decompor, e se unir a novas combinações dos cinco elementos acima citados, para então se manifestar de eoutra maneira perante aos nossos olhos.
Já a nossa consciência, que está conectada ao plano sutil, ao plano da espiritualidade, é eterna. Quando se tem a percepção sobre a natureza de nossa real essência, e ainda, que a consciência permeia tudo o que existe, que tudo é manifestação divina, a vida se torna plena em seu amago. Então, nos momentos em que se pode relaxar das tarefas e trabalhos diários, e têm-se a oportunidade de entrar em comunhão consigo mesmo, com a energia que mistura o sagrado e o profano, faz-se possível o regozijo e a conexão com a energia que conecta à Terra e ao céu, à esperança e à fé.
Tenho conversado com diferentes líderes de comunidades de raízeras, parteiras, quilombolas, de indígenas, além de estar ampliando a pesquisa nas manifestações culturais tradicionais brasileiras. E o fator comum que percebo em suas falas e expressões artísticas é justamente a conexão com os saberes e valores que vem de seus ancestrais, a conexão com a Terra, com a energia divina da luz e com os valores éticos básicos, mas tão esquecidos por grande parte da sociedade contemporânea. E essas conexões são a maior preciosidade que alguém pode ter na vida. Isso nutre a alma, traz clareza à mente, raízes firmes na terra e amor ao coração. Alguém que tem sua vida embasada nesses princípios está no caminho da harmonia da vida.
Voltando ao questionamento do porque algumas pessoas que têm muito dinheiro carregam o vazio existencial, percebe-se que o alimento para a parte de nós que permanece, que sempre é, faz-se necessário. E é importante, claro, que esteja conectado à luz. Ter dinheiro é ótimo. Fazer o bem para o próximo, para a sociedade é maravilhoso. Abrir-se para o compartilhar da vida, ao simples, a escutar as vozes das comunidades tradicionais é de uma riqueza imensurável.
Observa-se o crescimento rápido das Igrejas Evangélicas, e de outras instituições que ao invés de incentivarem o livre arbítrio, o questionamento sobre a vida e a ideia que nós todos somos Deus, ou como prefiro dizer, a Deusa, colocam cada vez mais o ser humano em caixinhas aonde o pensar é quase proibido. Caixinhas que condenam pensamentos livres, a cura pelas plantas, a conexão com a espiritualidade. Isso é um fator que vem desestruturando algumas comunidades a fora.
Apesar das dificuldades todas enfrentadas, o poder de vida, a força de resistência na preservação de suas culturas e tradições, o respeito à ancestralidade e a energia de ser divino e humano ao mesmo tempo permite que aqueles que param para escutar os saberes e dizeres desses povos sejam tocados profundamente, e jamais permaneçam impassíveis ao que realmente é Ser Humano.